Sunday, May 16, 2010

ANAND, CAMPEÃO DO MUNDO!



O indiano Viswanathan Anand, conservou o título de Campeão do Mundo de xadrez, derrotando o búlgaro Veselin Topalov, por 6.5-5.5, em Sófia, capital da Bulgária.

No match – acontecido de 24 de Abril a 11 de Maio de 2010 –, sagrar-se-ia campeão o melhor em doze partidas jogadas. O prémio foi de € 2 milhões, numa organização encabeçada pelo primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borisov.

Inicialmente previsto para 23 de Abril de 2010, o mundial de xadrez acabou sofrendo um (ligeiro) adiamento de um dia – a pedido do Campeão do Mundo –, por um motivo: Eyjafjallajökull, o vulcão da Islândia que paralizou os céus da Europa com as suas cinzas!
Tendo partido de Madrid de avião, Anand acabou fazendo por estrada o resto do percurso, via Frankfurt, Áustria, Roménia e Bulgária, num total de 40 horas (!), chegando à Sófia somente a 20 de Abril.

A primeira partida do match foi ganha por Topalov, com as peças brancas (o indiano bem que pode se queixar do consaço da viagem, já que o seu pedido de adiamento de três dias foi reduzido a um. Anand venceu a segunda e quarta partidas. Topalov venceu a oitava, igualando. Por fim, Anand venceu a décima-segunda e última partida, com as peças negras (a única vitória das negras no match e a primeira de Anand de negras sobre Topalov), levando a coroa de volta para a India. As restantes sete partidas terminaram empatadas. Em caso de empate, o campeão seria encontrado em partidas de ritmo acelerado.

Vishy – como carinhosamente é chamado Anand –, há muito que faz parte da elite xadrezística mundial. Conquistou o título de Campeão do Mundo FIDE em 2000, derrotando Alex Shirov, em Teerão. Por aquela altura a organização do xadrez encontrava-se dividido em FIDE (Federação Internacional de Xadrez) e PCA (Associação Profissional de Xadrez), havendo dois campeões.

Veselin Topalov tornou-se campeão do Mundo FIDE em 2005, em São Luis, Argentina, ao vencer um torneio de duas voltas. Entretanto viria a perder o título um ano depois, em 2006, para o russo Vladmir Kramnik, no match de reunificação FIDE e PCA.

Viswanathan Anand viria a destronar Vladmir Kramnik e tornar-se pela primeira vez Campeão do Mundo Unificado em 2007, na cidade do México, vencendo um torneio a duas voltas. (De forma semelhante tornou-se Campeão do Mundo Mikhail Botvinnik, em 1948, vencendo um torneio em Hage e Moscovo.

Anand viria a defender o título em 2008, na cidade alemã Bona, diante do destronado Vladmir Kramnik, derrotando-o por margem folgada.

O match Anand - Topalov teve a interessante particularidade de ser o primeiro desde 1927 – altura em que o russo-francês Alexander Alekhine tornou-se campeão –, em que nenhum dos contendores é russo ou da ex-URSS. Sinal evidente do fim do grande domíno da escola russa sobre o xadrez mundial. O colapso da ex-URSS e do bloco socialista, a globalização e a nova era da informática no xadrez, são factores decisivos da perda de tal domínio.
Anand junta assim o seu nome ao do holandes Dr. Max Euwe e do norte-americano-islândes Bobby Fischer, à lista de campeões não-russos (ou soviéticos), desde 1927.

Outra interessante particularidade do match, é de ser o quarto na história do xadrez em que um dos contendores joga em casa. O primeiro aconteceu em 1925 em Havana, tendo o cubano José Raul Capablanca derrotado o alemão Emanuel Lasker. Depois foi a vez do holandes Dr Max Euwe tornar-se campeão em casa, derrotando Alekhine, em 1935. Todavia viria a perder o título para o mesmo, dois anos depois na Holanda, igualmente.

Muito provavelmente, a Veselin Topalov restará o (bom) consolo de ter sido já Campeão do Mundo FIDE; depois de duas não sucedidas tentativas ao título unificado. Esta dupla tentativa ao ceptro máximo, traz-nos à memória outro nome grande da história do xadrez, o russo-suiço Viktor Korchnoi, de igual forma duplamente derrotado, em 1978 e 1982, por Anatoly Karpov. Também Chigorin, Janowski e Bogoljubov tiveram sorte semelhante nas duas tentativas, respectivas, à coroa xadrezística

A vitória de Anand – o primeiro Campeão do Mundo não-branco –, é, indubitavelmente motivo de grande inspiração à juventude, especialmente dos países subdesenvolvidos. É mais uma demontração de que na força de vontade, talento e trabalho árduo, está o caminho decisivo para a vitória. E para o sucesso.

Num País com grandes talentos xadrezísticos, como o nosso (Angola); num País que já produziu três campeões africanos júniores – Adérito Pedro, Eugénio Campos e Vladmir Pina –; e já viu um atleta seu, Adérito Pedro defrontar um Grande Mestre do topo, Vassily Ivantchuk – na altura o jogador número um do raking da FIDE –; a vitória de Viswanathan Anand deve servir de incentivo aos jovens praticantes e de reflexão e impusionamento ao desenvolvimento da modalidade.
William Steinitz ao perceber-se derrotado por Emanuel Lasker, na luta pelo título, exclamou entusiasmado: três vivas ao novo Campeão! E Emanuel Lasker, repetiria o mesmo a Capablanca que o derrotou. Nós diríamos também: três vivas ao Campeão Viswanathan Anand!
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por Décio Bettencourt Mateus.
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Artigo publicado no Semário Angolense, edição 367.

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